Sinopse:
Uma sucessão de erros e falhas na segurança resultou na segunda maior tragédia provocada por incêndios já registrada na História do país. Foram pelo menos 231 mortos, em sua maioria jovens que participavam de uma festa organizada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria na boate Kiss, em Santa Maria (RS). O fogo começou às 2h30m da madrugada, quando a banda Gurizada Fandangueira se apresentava e fez uso de efeitos pirotécnicos. As chamas começaram a se espalhar pelo teto. A primeira tentativa de combate ao fogo não deu certo porque o extintor não funcionava. A fumaça espessa provocou pânico. Centenas de pessoas tentaram desesperadamente fugir para a única saída da casa, mas, num primeiro momento, foram impedidos de escapar por seguranças que exigiam o pagamento da conta. Ao chegarem, bombeiros se depararam com um cenário de horror: uma barreira de corpos bloqueava a passagem das equipes de resgate. Boa parte das vítimas morreu asfixiada no banheiro. Segundo relatos, pensaram se tratar de uma saída de emergência. O estabelecimento estava com plano de prevenção e controle de incêndios vencido. (Págs. 1 e 3 a 16)
“Foi um horror. Meninas com o cabelo queimado, gente jogada na calçada Não sabia quem estava vivo ou morto. Gente morreu na saída da boate”
Eduardo Buriol
Estudante de agronomia
A gente gritou que estava pegando fogo, mas o segurança tentou manter a porta fechada. Uns cinco ou seis caras puseram a porta abaixo”
Murilo Tiecher
Estudante de Medicina
Tragédia em Santa Maria
Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça./A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta./Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa. /A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27dejaneiro de 2013. /As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. /Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. / Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. /Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. /Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência. /Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. / Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. / Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo? / O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista./A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados. / Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro. / Mais de duzentos e trinta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos. / Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. / As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. /Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu. /As palavras perderam o sentido. (Fabrício Carpinejar, poeta gaúcho)
Descaso mata 231 jovens no Sul
Boate
com plano de prevenção de incêndio vencido e lotada de universitários
pegou fogo após músico usar efeitos pirotécnicos no palco. Ao tentar
escapar, estudantes encontraram a única saída bloqueada por segurançasUma sucessão de erros e falhas na segurança resultou na segunda maior tragédia provocada por incêndios já registrada na História do país. Foram pelo menos 231 mortos, em sua maioria jovens que participavam de uma festa organizada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria na boate Kiss, em Santa Maria (RS). O fogo começou às 2h30m da madrugada, quando a banda Gurizada Fandangueira se apresentava e fez uso de efeitos pirotécnicos. As chamas começaram a se espalhar pelo teto. A primeira tentativa de combate ao fogo não deu certo porque o extintor não funcionava. A fumaça espessa provocou pânico. Centenas de pessoas tentaram desesperadamente fugir para a única saída da casa, mas, num primeiro momento, foram impedidos de escapar por seguranças que exigiam o pagamento da conta. Ao chegarem, bombeiros se depararam com um cenário de horror: uma barreira de corpos bloqueava a passagem das equipes de resgate. Boa parte das vítimas morreu asfixiada no banheiro. Segundo relatos, pensaram se tratar de uma saída de emergência. O estabelecimento estava com plano de prevenção e controle de incêndios vencido. (Págs. 1 e 3 a 16)
“Foi um horror. Meninas com o cabelo queimado, gente jogada na calçada Não sabia quem estava vivo ou morto. Gente morreu na saída da boate”
Eduardo Buriol
Estudante de agronomia
A gente gritou que estava pegando fogo, mas o segurança tentou manter a porta fechada. Uns cinco ou seis caras puseram a porta abaixo”
Murilo Tiecher
Estudante de Medicina
Tragédia em Santa Maria
Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu? Morri na Rua dos Andradas, 1925. Numa ladeira encrespada de fumaça./A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta./Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa. /A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27dejaneiro de 2013. /As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. /Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. / Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. /Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. /Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência. /Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. / Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. / Morri sufocado de excesso de morte; como acordar de novo? / O prédio não aterrissou da manhã, como um avião desgovernado na pista./A saída era uma só e o medo vinha de todos os lados. / Os adolescentes não vão acordar na hora do almoço. Não vão se lembrar de nada. Ou entender como se distanciaram de repente do futuro. / Mais de duzentos e trinta jovens sem o último beijo da mãe, do pai, dos irmãos. / Os telefones ainda tocam no peito das vítimas estendidas no Ginásio Municipal. / As famílias ainda procuram suas crianças. As crianças universitárias estão eternamente no silencioso. /Ninguém tem coragem de atender e avisar o que aconteceu. /As palavras perderam o sentido. (Fabrício Carpinejar, poeta gaúcho)
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